Analista Técnico em Gestão de Desenvolvimento Sustentável. Consultor em Meio Ambiente e Energias Alternativas. Parceria com a Senso Consultoria e Representante da Brasil Ecológico Energia Solar para SC.
terça-feira, 31 de julho de 2012
Saneamento básico é o maior problema ambiental do Brasil, diz especialista da UnB
A falta de saneamento básico causa mais impacto ambiental negativo ao Brasil do que o desmatamento ou a execução de projetos para a obtenção de energia. A avaliação é do professor de engenharia civil e ambiental da Universidade de Brasília, Oscar Netto. “Em média, todo brasileiro vai se deparar, em algum momento do seu dia, com problemas ambientais causados pela falta de saneamento. Sobretudo no que se refere a saneamento urbano, nós temos um grade desafio pela frente”, disse.
Oscar Netto aponta ressalta a última enchente do Rio Negro, no Amazonas, como exemplo do que a falta de coleta e destinação adequada dos detritos sólidos podem provocar. Segundo ele, um evento natural periódico foi agravado pelo lixo que boiava e causava contaminação.
É na Região Norte, inclusive, onde o problema de falta de coleta e tratamento de esgoto é pior. Enquanto a média nacional de coleta de esgoto nas residências é 44,5%, no Norte do país é apenas 6,2%, segundo dados de 2009 do Ministério das Cidades, quando foi concluído o último Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto.
Netto defende que a população cobre das autoridades medidas para esse quadro da falta de saneamento básico seja transformado. “Todo brasileiro que acompanha a televisão está sabendo do desmatamento, da construção das usinas, mas o saneamento não é tratado da mesma forma. Essa questão não aparece no topo das políticas públicas”, disse. A mesma crítica ele estende ao movimento ambientalista que não estaria se dedicando com afinco à essa questão.
O diretor adjunto de Campanhas do Greenpeace, Nilo D’Ávila, discorda que o assunto seja esquecido pelo movimento ambientalista. Ele admite que esta não é uma bandeira da organização da qual faz parte, mas garante que há outras organizações não governamentais (ONGs) no país trabalhando para que seja dada mais atenção à limpeza de rios e aterros sanitários.
Na opinião de D’Ávila, a falta de dedicação à questão do saneamento básico é dos governos. “É fato que não adianta ter uma ONG batendo se não há vontade do governo de fazer saneamento público. Tanto é que o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] do saneamento empacou. Saneamento é uma política pública que está diretamente ligada com a saúde. Quando o governo fala que a prioridade dele é a saúde, é uma mentira porque não há investimento em saneamento”, declarou.
Na opinião do diretor do Greenpeace , contudo, o Brasil também não está indo bem nas outras frentes da batalha ambiental. A queda do desmatamento apresentada pelo governo nas últimas semanas, para ele, está mais relacionada a questões econômicas do que à eficiência na fiscalização.
“O desmatamento caiu depois que pegamos aí quase 15 anos de esforço brasileiro. Mas esse esforço não é única e exclusivamente na área de meio ambiente. O esforço econômico que levou o dólar a R$ 1,35 também interfere nisso. Você percebe que a curva do desmatamento e do dólar são parecidas. O desmatamento na Amazônia é ligado à exportação de commodities. O dólar alto e a impunidade que existe nas questões ambientais levam as pessoas a cometerem ilícitos. Tanto que o desmatamento caiu, mas 80% dele ainda é ilegal”, disse.
A taxa de desmatamento na Amazônia Legal medida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em 2011 foi 8% menor que em 2010. A remoção da cobertura florestal no ano passado foi 6,4 quilômetros quadrados, a menor já registrada desde que o monitoramento começou a ser feito. Fonte: Mariana Jungmann - Agência Brasil
Após ampliar aporte para a energia eólica, BNDES foca a solar
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já liberou R$ 1,1 bilhão em financiamentos para projetos de energia eólica neste ano e prevê crescimento de 30% frente os R$ 2,2 bilhões de 2011. Na esteira do sucesso da energia eólica, cuja capacidade instalada saltou três vezes de 2009 até agora, o chefe do Departamento de Fontes Alternativas de Energia do BNDES, Antonio Tovar, espera analisar ainda este ano o primeiro projeto de energia solar no banco de fomento.
Segundo Tovar, o mais provável é que o projeto seja de uma fábrica de placas solares, com a demanda impulsionada pelo modelo de geração distribuída. O grupo Tecnometal, que também atua em eólica e tem fábrica de painéis em Campinas (SP), já foi credenciado no Finame, linha de crédito automática do BNDES para máquinas e equipamentos.
Na geração distribuída, consumidores de energia, como supermercados, shopping centers e residências, instalam painéis solares em suas coberturas e, além de gerar eletricidade para consumo próprio, fornecem para o sistema de distribuição, abatendo do que pagam pela energia.
Em abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou o Sistema de Compensação de Energia, com regras para a geração distribuída. Com isso, segundo Tovar, o desenvolvimento da energia solar torna-se viável. A tendência é algumas empresas - inclusive distribuidoras - especializarem-se na instalação de unidades geradoras para consumidores interessados.
"A solar hoje é a eólica há cinco anos", disse Tovar. Até 2009, o parque eólico brasileiro desenvolveu-se com subsídios do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Naquele ano, o BNDES liberou só R$ 230 milhões em financiamentos. Desde então, a energia eólica tornou-se competitiva, com leilões regulares, atraindo uma cadeia de fornecedores. A capacidade instalada saltou de cerca de 500 megawatts (MW), em 2009, para em torno de 1.600 MW hoje. Se a previsão se concretizar, o BNDES liberará R$ 2,86 para o setor.
A energia contratada garantirá capacidade instalada de 8.100 MW até 2016, caso todos os projetos sejam finalizados. No fim do ano, a capacidade deverá chegar a 3.000 MW, mas pode haver atrasos por falta de sistemas de transmissão. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), 600 dos 1.805 MW contratados no leilão de 2009 e previstos para este ano estão ameaçados pelo problema.
Com o crescimento do energia eólica, o País tem hoje oito empresas com fábricas de aerogeradores e componentes, em diferentes estágios, com capacidade de produzir equipamentos para instalar 4.100 MW ao ano.
O BNDES apoia a instalação de fábricas mas, segundo Tovar, a maior parte dos financiamentos vai para os geradores. O banco também investe via BNDESPar, diretamente ou por meio de fundos de investimentos. A BNDESPar detém fatias da Renova Energia e da Tecsis, fabricante de pás. Fonte: O Estado de São Paulo
terça-feira, 17 de julho de 2012
Brasil tem o equivalente a duas Franças em áreas degradadas, diz Ministério do Meio Ambiente
Se o Brasil recuperasse suas áreas degradadas – terras abandonadas, em processo de erosão ou mal utilizadas – não seria preciso derrubar mais nenhum hectare de floresta para a agropecuária. A avaliação é de técnicos e pesquisadores reunidos ontem (11), durante o 9º Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas (9º Sinrad), que ocorre no Rio até dia 13.
O diretor do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Fernando Tatagiba, estimou em até 140 milhões de hectares o total de terras nessa situação no país, área superior a duas vezes o tamanho da França. O ministério está finalizando seu novo plano plurianual, que dará grande importância à recuperação da terra como forma de evitar o empobrecimento das populações e prevenir a derrubada de mais áreas de florestas.
“Neste plano está estabelecida uma meta de elaborar, até 2015, um plano nacional de recuperação de áreas degradadas, que necessariamente deve ser feito com políticas integradas com outros setores da sociedade. Não existe um número preciso [de terras degradadas], mas gira em torno de 140 milhões de hectares. É um grande desafio que temos pela frente, de superar esse passivo, pois essas áreas geram prejuízos enormes para o país e trazem pobreza para o produtor rural”, disse Tatagiba.
Segundo o diretor, existem áreas degradadas em todos os biomas e regiões do país. “Obviamente, onde a ocupação humana é mais antiga, existem áreas mais extensas, como é o caso da Mata Atlântica. Mais recentemente, temos o Cerrado. Na Amazônia, as áreas degradadas estão localizadas em locais de mineração e no chamado Arco do Desmatamento [faixa de terra de pressão agrícola marcada por queimadas e derrubadas, ao sul da Amazônia, do Maranhão ao Acre]”, explicou.
Tatagiba considerou que se as áreas degradadas forem recuperadas, não seria preciso derrubar mais nenhum hectare de floresta para agricultura e pecuária, ainda que na prática nem toda área possa ser totalmente recuperada.
“Para reduzir a pressão sobre florestas, há necessidade de se recuperar pastagens degradadas, que são em torno de 15 milhões de hectares. Se você recupera a capacidade produtiva dessa pastagem, elimina a necessidade de suprimir uma área equivalente em florestas. Além disso, é preciso aumentar a produtividade da pecuária, pois não tem cabimento um boi por Maracanã [equivalente a um hectare]”, comparou Tatagiba.
Para o chefe do Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Agrobiologia), Eduardo Campello, o Brasil já detém tecnologia própria para reverter a degradação das terras, por meio de processos de seleção e manejo e trocando produtos químicos por insumos biológicos. Com isso, ele considera ser possível reduzir ou até reverter a derrubada de florestas para a agropecuária.
“Várias dessas áreas podem se tornar mais rentáveis, tirando a pressão sobre as florestas e os remanescentes nativos. Já tivemos avanços incontestáveis com o plantio direto [técnica em que se roça a terra e se semeia em seguida, evitando a erosão]. É preciso integrar lavoura, pecuária e floresta, usando mecanismos naturais, como fixação biológica de nitrogênio, evitando o uso de adubo químico. Já temos áreas abertas suficientes, o que precisamos é recuperar o solo.” Fonte: Vladimir Platonow - Agência Brasil
quarta-feira, 4 de julho de 2012
A energia que vem do lixo
A Usinaverde é a primeira usina para tratamento térmico do lixo do país. Instalada no Rio de Janeiro, ela é capaz de processar 30 toneladas de lixo, por dia, com uma geração de energia que seria suficiente para atender 20 mil habitantes
Em busca de uma tecnologia inteiramente nacional, Henrique Saraiva, presidente da empresa Usinaverde, instalada na cidade do Rio de Janeiro, convocou antigos colegas - ex-engenheiros químicos do Centro de Pesquisas da Petrobrás - Cenpes - para desenvolver um projeto inovador no Brasil: uma usina para tratamento térmico do lixo.
Com vários anos de experiência em pesquisa teórica sobre o tema, a equipe brasileira se lançou no desenvolvimento da primeira usina desse tipo no país. Após parcerias com pesquisadores e laboratórios da Coppe/UFRJ - Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e seus próprios funcionários em ação, a Usinaverde entrou em funcionamento com um projeto-piloto na Ilha do Fundão, no campus da UFRJ. "Somos uma empresa e não temos vínculos com a UFRJ. Mas muitos profissionais da universidade foram importantes no desenvolvimento de nossa tecnologia", explica Saraiva.
Instalada, em regime de comodato, no terreno da Fundação Bio-Rio/UFRJ, o protótipo da Usinaverde é capaz de processar 30 toneladas de lixo, por dia, com uma geração de energia que seria suficiente para atender 20 mil habitantes. Os resíduos sólidos são recolhidos na Usina de Triagem e Compostagem da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro - Comlurb, localizada no bairro de Paciência. Para desenvolvimento da tecnologia, construção e operação do protótipo da Usinaverde foram investidos mais de R$ 15 milhões, em cinco anos.
O processo de geração de energia por tratamento térmico do lixo compreende duas fases: na primeira etapa, o lixo é separado, já que apenas matéria orgânica e resíduos não-recicláveis (papel e plástico que tiveram contato com matéria orgânica) são encaminhados para incineração. Esses materiais são, então, fragmentados e triturados num moinho, dando forma ao Combustível Derivado dos Resíduos (CDR).
Na segunda etapa, o CDR é incinerado a uma temperatura de cerca de 1000 ºC e os gases quentes são aspirados para uma caldeira de recuperação, onde é produzido o vapor que aciona o turbogerador (com potência efetiva de 0,6 MW, por tonelada de lixo tratado). Os gases extraídos da caldeira são neutralizados por um processo de filtragem, com rotores que giram a 900 rpm e lavagem com água alcalina. Os gases limpos são, então, lançados na atmosfera. Já os resíduos inertes são arrastados para um decantador e podem ser aproveitados na produção de material de construção. "Com 150 toneladas de lixo por dia, é possível fabricar pisos e tijolos para 28 casas populares de 50m2 por mês", informa Saraiva.
Pouco explorada no Brasil, já que o mais comum por aqui é se extrair energia a partir do biogás - gerado em aterros sanitários -, a tecnologia de tratamento térmico do lixo é uma alternativa já adotada em outros países. "Os aterros sanitários, até mesmo os mais controlados, são uma ameaça ao meio ambiente por causa da contaminação do solo. Além isso, temos também a questão da escassez de terrenos disponíveis para sua instalação. As usinas de tratamento térmico do lixo exigem áreas menores e operam sem odor e ruído", diz Saraiva.
"Esse tipo de investimento é muito mais adequado para uma proposta sustentável de tratamento do lixo", argumenta. "Nas tecnologias estrangeiras de tratamento térmico de lixo, há um gasto de eletricidade maior no processo de incineração e os filtros utilizados, que precisam ser trocados depois que sua vida útil acaba, são muitos caros", continua Saraiva. "Mas a nossa proposta, genuinamente brasileira, permite maior economia de energia e o processo de filtragem desenvolvido também reduz nosso custo de operação", completa.
Em países frios, é muito comum que parte da energia gerada por esse tipo de usina seja térmica, para alimentar equipamentos de aquecimento. Mas, na proposta brasileira, ela é inteiramente elétrica. A tecnologia patenteada pela Usinaverde prevê, ainda, módulos de tratamento com capacidade para tratar 150 toneladas de lixo bruto por dia, com geração efetiva de 3,2 MW de energia elétrica, sendo 2,6 MW para venda.
Cada módulo poderia dar conta do lixo de uma comunidade de 180 mil habitantes e suprir de energia elétrica 13.400 residências (cerca de 60 mil pessoas), considerando o consumo médio de 140 kWh por mês. Toda nova alternativa que se mostre eficiente para solucionar a questão do lixo, que assola as grandes cidades, é, afinal, sempre bem-vinda. Fonte: Planeta Sustentável - 26/05/2008 / Por Gabriela Varanda - Edição: Mônica Nunes
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